John Ronald Reuer Tolkien foi professor, escritor, poeta, filólogo e um bocado geek. Para esta entrevista fomos até à cave da casa dos pais, e quando o encontrámos estava de fato de treino a jogar Pac-Man há dez horas seguidas, e nem do nível 150 tinha passado ainda, o amador. Depois de desligar o jogo dispôs-se a falar connosco e lá começámos a entrevista que tínhamos vindo fazer. Munidos das nossas canetas de Elendril enfrentámos esta entrevista de maneira mais corajosa que Bilbo enfrentou Smaug. Apesar de o peso de entrevistar o senhor fantasia ser mais pesado que o Anel Um conseguimos fazê-lo sem perder dedos. E como podem ver, depois de tantas referências geek não é a única coisa que ainda não perdemos. Texto: Sérgio Pereira e Tiago Lacerda Foto: JPEG de 676x440 pixéis com 44739 bytes
Combateu na Primeira Guerra Mundial, mas foi afastado da linha da frente e enviado para casa por ter contraído o tifo. Sífilis foi opção ou na sua companhia não havia ninguém que humedecesse o pavio?
[sorriso nostálgico] Se começasse a explanar sobre o que passei na WWI, tínhamos assunto para mais uma saga. Digamos que a vida nas trincheiras era excitante, e que o cheiro afrodisíaco a fezes humanas e podridão acaba por levar muita gente a cometer desvarios.
Você falava 17 idiomas. A pergunta que se impõe é: porque é que nunca apresentou o festival da Eurovisão?
Sabe, o Eládio Clímaco… [expressão de desalento] Nunca tive hipóteses, ainda concorri uma data de vezes, mas estava lá sempre ele. Ainda me cheguei a disfarçar de mulher, pois assim podia fazer par com o Eládio, mas depois apareceu a Serenella Andrade, as oportunidades como que se esfumaram.
Você inventou duas línguas élficas. Como se sente ao saber que fez com que milhares de pessoas ficassem para sempre virgens devido ao facto de estudarem os idiomas que inventou?
Sinto-me bem, sinto-me satisfeito, sinto-me revigorado. Eu inventei-as, tomou-me algum tempo, mas foi só passar para o papel aquilo que vinha magicando na cabeça. Depois disso pude continuar sem contratempos a minha relação com a Edith. Agora percebo que as coisas não tenham sido fáceis para aqueles que se tenham dedicado a esse estudo. Mas também ninguém os obrigou.
O professor possuía um interesse exacerbado por mitos, contudo era católico fervoroso. Que incoerência é esta?
Não gosto da maneira como formula a pergunta. A maneira como diz “interesse exacerbado” parece que me está acusar de alguma ilegalidade e soa terrivelmente parecido com aqueles GNR´s que dizem “O senhor efectuou uma contra ordenação grave pela qual será neste momento autuado e posteriormente notificado em sede de residência”. Eu ia devagarinho caraças! Mas os gajos vêm um homem a fumar cachimbo pensam logo “este é rico ‘bora autuar!”. Não sei se reparou que até aqui evitei responder à sua pergunta, mas aqui vai a sua resposta:
Huj kuku hiiiii paptipopatupa gugota bonerte cawaka xiiiiiiiiiiii xiiiiiiiiiiii putz xi gurt pok pokto grrr xiiiiiiiiiii xiiiiiiiiii.
Espero que o facto de responder em Partonês, uma língua que eu inventei enquanto fui ao W.C., não o incomode.
Foi amigo próximo de C.S. Lewis, criador de As Crónicas de Nárnia. Nunca pensaram fazer um spin-off, em que (a título de exemplo) Frodo e Sam teriam de se juntar aos quatro irmãos para irem à procura do desaparecido Leão, enfrentando pelo meio a Bruxa Branca, Nazgûls e, vá lá, um louva-a-deus ainda mais sexy que a Shelob?
Primeiro creio que eram só três irmãos e não quatro. Penso que você de tanto se imaginar em Nárnia montado de forma viril num lindo e colorido unicórnio ficou a pensar que era um dos irmãos/reis de Nárnia. O que me dá pena é que você nem seja nem tenha possibilidades de vir a ser, pois enquanto acabava de fazer a sua pergunta fui verificar a sua árvore genealógica e não há vestígios de na sua família primos casarem com primos, nem de virgens terem o seu casamento combinado desde tenra idade. Assim nada feito. Quanto à sua pergunta, tenho alguma dificuldade em responder-lhe a essa questão de forma completa e plenamente satisfatória mas vou tentar: Não.
Tudo começou com a frase “Num buraco do chão vivia um hobbit”. Se em vez de ter escrito essa frase tivesse escrito “No pescoço da girafa brilha um bonito colar” acha que tinha inventado à mesma a Terra Média? Se sim quais seriam as diferenças? Se não porquê? Se talvez dê um tabefe em si próprio por não responder em termos a um jornalista honesto.
[longo suspiro] Pergunta difícil. O mais complicado seria estabelecer uma razão para a existência de uma girafa na Terra Média. Tudo porque um animal com um pescoço tão grande e com algo brilhante no mesmo poderia distrair constantemente os Nove Cavaleiros, pensando que o Anel se encontrava ali. E com essas distracções a tarefa do Frodo em destruir o Anel ficava muito mais facilitada pois não tinha de andar constantemente a fugir. Enfim, digamos que por alguma razão é que eu sou um escritor de renome e você um reles jornalista.
Quando Bilbo encontra o Anel em Hobbit, e joga às adivinhas com Gollum, uma das adivinhas começa com a frase “Esta coisa todas as coisas devora”. Referência a Elsa Raposo?
[gargalhada maléfica] Para lhe ser sincero, deviam ser poucas as pessoas em Oxford que não conheciam a Elsa. Tive a oportunidade de conviver nos mesmos espaços que ela frequentava e trocar inclusive algumas palavras. Porém não a esquartejei, pois ela achava-me lunático demais. Além disso tinha-se espalhado o rumor na universidade que eu tinha um pénis diminuto por causa de tanta fantasia. Rumores infundados, devo esclarecer. Mas deverão ter contribuído para a decisão dela.
Os hobbits Merry e Pippin tiveram algum tipo de relação homossexual no seio da Floresta de Fangorn?
Já cá faltava a pergunta/piada homossexual sobre um dos pares de hobbits! (suspira) Em resposta à sua pergunta, não eles não tiveram nenhum tipo de relação maricas que eu sou um autor temente a Deus, e não me pareceu bem pôr mais larilas nos meus livros. Quer dizer o Frodo e o Sam já esticam a corda ao máximo, não é?
O professor criou aquela que é possivelmente a aranha mais sexy do mundo, a Shelob. Cerca de 50 anos depois, J.K. Rowling decidiu fazer-lhe concorrência com a Aragog, igualmente detentora de uma beleza descomunal. Isto deixou-o de alguma forma irritado? Ponderou algum momento processar Rowling por concorrência desleal, pois Aragog tinha igualmente milhares de filhos sexys e Shelob não?
Vamos por partes. Em primeiro lugar agradeço-lhe a distinção de sexyness que concede a Aragog, é algo porque fico muito reconhecido e ligeiramente preocupado consigo. Quanto ao facto de a Jo ter criado uma aranha sim, deixou-me irritado. Não o facto de ela ter criado uma aranha bonita, nem por lhe ter dado uma enorme família mas sim por a ter feito ceguinha. Então mas que é isto? Uma aranha que é sexy e cega? Que atrai e assusta por um lado e por outro dá pena? Mas isto são livros de fantasia ou um videoclip do Lionel Ritchie? Isso sim é concorrência desleal. Por fim nunca pensei em processar Rowling por concorrência desleal, devido a um pequeníssimo imbróglio jurídico: estou falecido.
Numa batalha entre o seu personagem Gandalf e José Sócrates quem acha que venceria? Não se esqueça de que o José pode fazer Gandalf ficar sem direito a reforma e dar-lhe cabo dos PPR´s...
Diria José Sócrates. Gandalf ainda poderia amedrontá-lo com um cavernoso “Não passarás!”, mas Sócrates não teria problema em reagir dizendo a Pedro Silva Pereira que “ou aquele idoso de barbas brancas se comporta ou corto-lhe o RSI. Já tem uma certa idade e parece algo vagabundo, mas se consegue bater com o ceptro no chão com aquela força toda, então é sinal de que ainda pode trabalhar. Além disso não quero ter o Portas à perna por causa de estar a ajudar um velho que anda com anões atrás.”.