Não me atendeu. Deve andar entretida lá com as investigações de cáracacá dela. Mesmo assim deixei mensagem, que ainda podia vir a dar jeito, mais não seja porque ela faz um polvo à lá lagareiro maravilhoso e ao tempo que andamos a tentar combinar uma jantarada com o Mário Crespo. “Ora se a Felícia não me responde… já sei!”. Peguei novamente no telemóvel e liguei a Lisbeth Salander. Atendeu-me com um monossílabo como é característico nela. As pessoas criticam-na por falar pouco mas, sinceramente, eu não tenho razão de queixa. Das personagens fictícias a quem eu ligo para receber informações ela é a única que fala comigo. Fala pouco, é verdade, mas sempre é mais útil que aquele mete nojo do Coronel Buendia. Enfim, depois de explicar a situação à Lizzie ela em três minutos disse-me tudo o que sabia a respeito de Athur Conan Doyle. E se ela sabia coisas… Depois foi só uma questão de gritar alto “Arthur ou acabas com esta palhaçada e falas comigo sobre o lançamento do teu livro, ou amanhã vem escarrapachado nos jornais que tu andas a dormir com um médico com tendências sado-maso, e que no inicio não gostaste da escolha do Robert Downey Jr para o papel de Sherlock Homes!”. Assim que estas palavras me saíram dos lábios, Athur Conan Doyle saiu do seu esconderijo e dirigiu-se a mim. “Eras mesmo capaz de revelar isso?” perguntou-me a suar em bica e cheio de medo. “Claro que era. E mais, se não andas na linha sou rapaz para, além de revelar a história do médico, contar as tuas aventuras com as prostitutas transexuais tailandesas!”. Para minha surpresa não era a revelação dos pormenores sórdidos da sua vida sexual que preocupava Doyle (“para isso já há o The Sun, não precisavas de me ameaçar”). Tinha era medo da reacção de Downey Jr. “Imagina que ele ouve e veste o fato! Vem aí e dá-me uma carga de porrada das antigas! Se até o Mickey Rourke que anda no Wrestling apanhou no focinho imagina eu!”.
Só depois de garantir que nada do que em cima está publicado veria a luz do dia é que Conan Doyle se acalmou (tão Mikael Blomkvist da minha parte!). Falou-me depois longamente sobre o seu livro. Não fiquei especialmente impressionado. Um detective com um cachimbo que resolve casos? Huuuum… Não me convence. Se ao menos o detective fosse um gato que fuma cachimbo e resolve casos, talvez. Assim não me parece.
À medida que deixava a loja para trás ia dançando freneticamente pelas ruas ao som de “Can Touch This”. De repente oiço a música “Cantor de Sonhos” do Tony Carreira, sinal de que alguém me estava a ligar para o telemóvel. Era a Felícia. Já temos jantarada combinada.
0 comentários:
Enviar um comentário