Decorreu hoje, num edifício público muito chique, a nomeação do Cardeal de Richelieu para primeiro-ministro da França por parte do rei Luís XIII. A promoção, apesar de esperada, deixa muita gente descontente e promete causar polémica. Para começar a Rainha-mãe sempre se mostrou contra Richelieu por “esse gajo ser diabólico e parecido com um cão que ninguém consegue bem identificar de que raça é. Além disso está-me a dever dinheiro ao Bingo, e tem uns tiques esquisitos”. Apesar das críticas da sua mãe, Luís XIII decidiu ainda assim nomear Richelieu pois, tal como disse no discurso de tomada de posse, “O Cardeal possui uma estratégia a longo prazo para o nosso país e isso agrada-me. É ainda capaz de cheirar o rabo dos membros da corte e perceber por ai o que comeram ao almoço, e isso só pode ser visto como uma vantagem”.
Mas as vozes dissidentes desta decisão não ficam por aqui. Também o Senhor de Treville, chefe dos moscãoteiros, se mostrou desagradado por o cargo de primeiro-ministro do país ser agora ocupado “por um homem que sempre se mostrou contra o moscãoteirismo. Basta lembrar as campanhas que levou a cabo contra nós de maneira a nos impedir de abrir a nossa boutique”. A botique em questão (Os mosqueteiros Intermaché) acabou por ser aberta no ano passado, depois de uma luta acessa na opinião pública em que Richelieu fez de tudo um pouco para atrasar o processo. “Se não fosse o Dartacão a infiltrar-se na fortaleza do Cardeal roubando umas pinturas de Rubens que incriminavam Richelieu e que deveriam estar em segredo de justiça (às quais o Cardeal não deveria ter acesso uma vez que era arguido no processo levantado o ano transacto pelo rato Pom) ainda hoje estaríamos a discutir se era legal ou não construir o nosso empreendimento na chamada “zona de protecção especial”, declarou em exclusivo ao JN Porthos, o conhecido moscãoteiro.
O já referido Dartacão também esteve presente na ordenação do cardeal como segurança pessoal do rei. E apesar de se encontrar em dever e de por isso mesmo usar óculos e fato escuro, nada escondia o seu intermitente nariz vermelho, conhecido por ficar nesse estado quando está furioso. Apesar de não querer fazer qualquer declaração a imprensa, o Jazigo sabe, graças ao sacrifício que este vosso jornalista teve de fazer ao dormir com Julieta para lhe sacar informação (ficando depois a debater-se consigo mesmo se aquilo poderia ser considerado bestialidade), que o famoso quarto moscãoteiro não se encontra de todo de acordo com a decisão do rei.
Quanto ao Cardeal mostrou-se “feliz pela nomeação e ansioso por começar a trabalhar. Olhe nem é tarde nem é cedo! Você, caro jornalista, não pertence às classes mais pobres? Sim? Então tenho o prazer de lhe anunciar que os seus impostos anuais subiram em 1%!”, rindo-se de forma que eu (não fosse a imparcialidade jornalística que me é reconhecida) classificaria de nojenta e abjecta. O otário das missas especiais ainda acrescentou “sabe, preciso de ter dinheiro para pagar a minha guarda pessoal que iniciará em breve a sua purga contra os moscãoteiros. E além disso alguém tem de pagar os “favores” que aquela gatinha da Milady me faz”.
Com as gargalhadas malévolas de Richelieu nos ouvidos abandonei a cerimónia o mais rápido possível, com esperança de evitar que a minha espada se desembainhasse rumo ao seu diminuto pescoço. Na saída fui acalmado pela música e poemas de Aramis que tinha assistido a tudo e me consolou dizendo “O rei daqui a nada percebe o erro que cometeu e despede-o. Além disso se atacarem muito os seus direitos fundamentais, o povo revoltar-se-á e o pretendente do trono (que é cão como nós) tentará tomar posse, algo que o rei quer evitar a todo o custo”. Com estas palavras animadoras fui-me embora para casa, parando apenas para tomar um copo com o Dogos. Ou talvez tenham sido uns vinte, não sei. Com aquele rapaz é impossível parar de beber.
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