Como sou um jornalista nada dado a elitismos, depois de ouvir as declarações do presidente desloquei-me no meu Roll´s Royce até a um rua cheia de gente do povo. Ao sair do carro fui olhado com estranheza, sentimento que eu nunca esperaria que o meu casaco de peles de raposa provocasse. Passado pouco tempo percebi, contudo, que estas pessoas simples me tinham aceitado e estavam dispostas a falar comigo. O factor mais sintomático desta evidência foi talvez o rapto da minha filha. Ao levarem-me a pequena e deixarem-me um cartão no carro com a seguinte frase “Ou nos dás 400.000 doláres ou a tua filha falece, ricalhaço” as pessoas evidenciaram uma enorme vontade de falar comigo novamente. Fiquei contente, e como não sou um homem de desperdiçar opurtunidades, decidi aproveitar ao máximo a ausência da miúda que tantas vezes me complica o trabalho.
Ao perguntar a uma pessoa comum (um velho senhor com uma pala negra sobre a vazia órbita do olho direito) a sua opinião sobre a assinatura destes documentos, recebi uma resposta elucidativa do estado de espírito da populaça “o Presidente assinou o quê?!? Então mas não estávamos já em paz?! Mau, tu queres ver que tenho de ir lutar outra vez com os nazis?! Já perdi um olho não quero perder outro...” . Esta resposta, além de esclarecedora, fez com que também perdesse o meu carro. Pois no tempo em que o sr. Sparrow me contou a história de como perdeu o olho (uma curta fábula de 3 horas e meia que envolve papagaios comedores de olhos e um palhaço nazi domador de papagaios comedores de olhos) o meu carro foi roubado. Moderadamente chateado com a forma como esta reportagem estava a correr decidi ligar para os senhores que raptaram a minha filha. Ao desligar o telefone fiquei furioso. Os imbecis recusaram-se terminantemente a prestar declarações sobre a assinatura do armistício. Que animais! Como é que são capazes de negar declarações a um jornalista desesperado?! Que bestas... Ah, e também me disseram que se quisesse a minha filha a podia ter de volta. Ao que parece a petiz começou a fazer das dela, e eles já não a podem ver à frente e afirmam que “respiraremos de alívio no momento em que a virmos pelas costas”. Acontece às vezes, mas comigo não que sou pai dela e a amo mais que tudo neste mundo. Bom, está na hora de acabar esta reportagem e ir buscar a pequena aos raptores, faz hoje dois meses que não a vejo e começo a sentir saudades.
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