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Penso, logo existo e recuso

Written By Sérgio Pereira on sábado, 23 de outubro de 2010 | 23.10.10

“Olha para mim, sou tão bom escritor que até nem vou aceitar este prémio Nobel da Literatura!”. Foi isto que Jean-Paule Sartre pensou quando de manhã lhe foi comunicado que tinha ganho o galardão mais importante da escrita mundial. Isto e também que, como era francês, não comia french toasts, apenas toasts.
“Antes morrer que aceitar essa hipocrisia!” disse Sartre ainda a frio, pois tinha acabado de sair do frigorífico para refrescar as ideias. “Então mas o senhor não é existencialista?”, perguntei eu, intuitivamente, mostrando todo o meu conhecimento sobre o escritor francófono. “Pois sou, peço desculpa, é de estar ainda a frio. Oh Simone, traz-me uma toalha faz favor!”. Podia dizer que, como Sartre tinha saído de um ambiente gélido, o seu pénis se tinha reduzido a um tamanho ridiculamente diminuto, mas não o vou fazer por questões de elevação.
Simone de Beauvoir, companheira íntima há largos anos de Sartre, não quis comentar toda esta polémica, principalmente porque “tenho de ir ter com um dos meus 20 amantes”. “Então, mas oh senhora de Beauvoir, isso não é um pouco... como é que eu hei-de pôr... rameirice?”, perguntei eu, inocentemente. “Não, é ter hormonas em excesso aos saltos. Por falar nisso, se dermos uma rapidinha na casa-de-banho você faz publicidade ao meu trabalho na sua notícia?”. Resta-me dizer que Simone de Beauvoir é uma escritora tão requintada e fantástica como Sartre, com uma veia artística descomunal, bem patente nos seus livros Os Mandarins e O Segundo Sexo.
Voltando ao epicentro do texto, quando voltei à cozinha desta casa caótica encontrei Sartre já sem a cor azul a tingir-lhe o corpo, mas com o seu orgão sexual ainda do mesmo tamanho, fazendo-me indagar que o frio não era um factor determinante para a variável comprimento. “Diga lá agora a sério, você só está a recusar este prémio Nobel para se armar em bom e ser diferente dos outros, não é?”, perguntei incisivamente. “Armar-me em bom para ser diferente dos outros? Ah ah ah essa é boa! Mas você pensa que eu sou o quê? Francês? Ele há com cada um!”. “Contudo, este já não é o primeiro prémio que o senhor recusa”, voltei à carga. “Sim, mas existe uma explicação deveras satisfatória para eu fazer isso. Imagine que agora aceitava todos os prémios e galardões que me davam. Onde é que punha as minhas 40 amantes? E mesmo assim já tenho de meter uma ou outra por cima do guarda-fatos, só para você ver as dificuldades por que passo.”.
Explorado que estava o tema da declinação do prémio Nobel, o mais sensato a fazer enquanto jornalista era ir embora. Por isso é que decidi fazer mais uma pergunta a Sartre: “O seu pénis é assim nanico porque o senhor também é um meia-leca acanhado?”. Sartre ficou rubro, mas a sua genitália continuava imóvel: “Ai agora está a fazer pouco, é? Então repare: eu tenho 40 amantes e ganho prémios que não aceito. Você vai para casa de mãos a abanar e nunca ganhará um Pulitzer porque o que o senhor faz nem se pode considerar jornalismo, é simplesmente uma abjecção truanesca.”. Furioso, repliquei: “Julga mesmo que vai levar a melhor na arte de insulto utilizando palavras caras? Contra mim? Eu sou o mestre dos insultos intricados! Quer ver? O senhor foi soldado meteorologista na II Guerra Mundial. Que é que se faz enquanto soldado meteorologista? Tenta adivinhar-se quando vai estar muito sol e calor, para que os outros soldados das trincheiras, aqueles palermas que combatem e dão a vida pelo país, não defequem nas horas anteriores a esse pico abrasador, senão o odor torna-se intolerável?”. Sartre, qual francês que acabou de ser atacado pela Bélgica, rendeu-se: “Com esta é que me tramou! Se houvesse um prémio para melhor insulto você ganhava”. Optei por não desistir de bater no minorca: “E se houvesse um prémio para o melhor sair de rabo entre as pernas, você ganhava... e rejeitava.”.
Após esta e mais algumas trocas amigáveis de impropérios, que não vou meter aqui porque o bom-senso e alguns palavrões não o permitem, eu e Sartre acabámos por andar ao murro. Um homem espadaúdo como eu depressa dava cabo do anão de metro e meio que era o autor francês, por isso ele lá acabou suplicando-me por misericórdia, compensando com a disponibilização de uma das suas amantes para o caminho. E jamais a expressão “nunca se sabe o que pode acontecer ao virar de cada esquina” teve tanto sentido.

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