Numa sessão atribulada em que quase virou esquizofrénico, o magistrado Luís Pechincha apresentou objecções à sua própria decisão, e acabou por resistir com violência aos agentes de autoridade que ele próprio chamou para o prender.
Tarde de choque no Tribunal de 1ª e 2ª Instância (e também 3ª quando a dactilógrafa consegue arranjar ama para o filho de trinta e dois anos) de Vila de Cima. O reputado juiz Luís Pechincha, conhecido pelos julgamentos de casos tão mediáticos como o assalto ao banco de esperma e um caso onde se provou que a mesma pessoa foi assassinada duas vezes, foi condenado a seis meses de prisão por crimes de corrupção activa, passiva, por trás, às vezes de lado e uma vez com um potro. Junta-se ainda um mês por agredir os seguranças do tribunal e duas semanas por ter sido considerado culpado no assalto com arma branca a uma estação de serviço, no qual roubou uma revista Maria, uma National Geographic e um pacote de gomas.
Tudo isto seria mais ou menos normal não fosse este pequeno detalhe: as gomas já estavam fora do prazo de validade. Quando Luís abriu o pacote e enfiou a mão só encontrou ranço, voltando novamente para a estação e pedindo o Livro de Reclamações. Esta foi a principal prova usada pelos advogados da estação de serviço, que mostraram ainda um vídeo do juiz com a arma branca no bolso. “Objecção! Aquilo é o pénis de um potro, logo não pode ser usado como elemento incriminatório. Temos lá culpa que o animal seja albino!”, protestaram os advogados do réu. E o juiz deu-lhes razão. Ah, pois, já me esquecia. O réu e o juiz eram a mesma pessoa.
Passo a explicar. O tribunal de Vila de Cima tem dois juízes: Luís Pechincha, o protagonista desta notícia, e Tóni Naifadas, que foi preso após assaltar o banco de esperma. Logo, só havia um magistrado disponível, Luís Pechincha, e por isso foi ele que tomou conta do seu próprio caso. Pechincha declarou-se culpado pelo assalto à estação de serviço, não sem antes considerar a mesma culpada por falta de higiene, condenando os funcionários da bomba a lavar o cabelo com ranço durante um mês.
Faltava depois julgar o caso mais sensível: aquele em que Luís Pechincha era acusado de aceitar favores em forma de prazer sexual e erótico, bem como Mentos (ou Tic-Tacs, quase não houvesse Mentos) em troca da absolvição. E quem queria ser absolvido? Tóni Naifadas, o outro juiz de Vila de Cima. A relação entre ambos os magistrados era tensa, mas quando Tóni teve de comparecer perante a justiça, percebeu que esta só era cega de dois olhos e ainda tinha um que se podia aproveitar. Durante todo o julgamento, que demorou um mês e meio, Luís e Tóni mantiveram um relacionamento ultra-secreto, que se desenrolava num motel em Vila de Baixo. E tudo corria bem, até ao dia em que Luís chegou atrasado ao motel porque tinha roubado gomas rançosas e voltara atrás para reclamar. Tóni estava zangado, pelo atraso de Luís e porque este não teve a decência de pelo menos lhe deixar o pénis de potro, para ir passando o tempo. Quando Luís finalmente chegou houve discussão da grossa, principalmente quando o pénis de potro começou a servir como arma. Luís também estava zangado, porque Tóni não tinha o pacote de Mentos para lhe dar. Tóni desculpou-se, dizendo que o irmão dele, que lhe costuma arranjar os doces, estava atrasado. E o irmão de Tóni, o Zeca Naifadas, chegou pouco depois, pedindo desculpa pelo atraso mas que tinha sido assaltado na estação de serviço onde trabalha. Ao ver Luís, o assaltante, entornaram-se os Mentos. A discussão tornou-se gigantesca, atraindo a atenção dos habitantes de Vila de Baixo, Vila de Cima e Vila-Que-Fica-de-Um-dos-Lados. Consequências imediatas: a relação entre Tóni e Luís acabou de forma litigiosa, o que levou à condenação do primeiro; Zeca colocou Luís em tribunal; e um potro teve de ser abatido.
Como havia muitas testemunhas, e como o motel tinha câmaras de segurança desde que o presidente da câmara de Vila de Baixo, Ernesto Escumalha, o tinha usado como local de encontro para fãs de filmes com a Jennifer Garner, Luís Pechincha não teve outra alternativa se não considerar-se culpado. Porém, no momento em que o disse gritou “Objecção!”, o que o fez dizer “Indeferido”, ao que respondeu com “Isto é uma vergonha!”, para depois bater vigorosamente com o martelo e dizer calmamente “Peço ao réu que se acalme ou terei de chamar as autoridades”. Perante a sua própria resposta “Patifaria! Está tudo feito para me tramar!”, Pechincha chamou os agentes, enquanto continuava a bater com o martelo na mesa para acalmar os ânimos exaltados dele mesmo. Quando dois seguranças entraram na sala, Luís disse “Prendam-me”, só que quando os agentes se aproximaram, Luís atirou-lhes com o martelo e tentou fugir, voltando atrás para ainda dizer “E condeno ainda Luís Pechincha a um mês por ofensa à integridade física de agentes da autoridade”. Depois tentou fugir outra vez, mas com aquela vestimenta depressa tropeçou e foi apanhado.
Para aqueles que se ficaram pelo 1º trimestre do 1º ano de Matemática, Luís Pechincha vai agora cumprir sete meses e meio na cadeia. Não tens de quê, Jerónimo de Sousa.
0 comentários:
Enviar um comentário