O anjo Gabriel mandara-me a mensagem logo de manhã para o meu 91: “O filho de Deus vai nascer logo à noite numa manjedoura. Se me pagares bem digo-te qual é. Ah, e quero ser uma fonte protegida. Jokinhas.”. Cumpri a minha parte do acordo. Assim que Gabriel me disse a localização da manjedoura (que é só uma forma gira de dizer “buraco nojento e asqueroso”) empalei-o, embalsamei-o e hoje é uma fonte protegida que deita água da sua santa pilinha. A abelha falante que diz ser a minha consiência nunca mais dormiu, mas vou acalmando-a com a frase “Se estes gajos podem enganar milhões de pessoas com a história de um senhor barbudo que está sempre a olhar por nós, que nos ama, mas que ainda assim não nos quer violar, então eu também posso dizer a mim próprio que era aquele tipo de fonte que o Gabi queria ser”.
Assim que o assunto do Gabriel ficou tratado voltei a casa, vesti a minha T-shirt mais católica (“Sou pela pedofilia mas acho que deviam melhorar as vossas homilias”), lavei a cabeça, coloquei três preservativos na carteira (com esta gente nunca se sabe...) e pegando nas chaves do meu camelo saí porta fora rumo a Belém. Como sempre o camelo recusou-se a pegar à primeira. Não percebo a relutância dele, a sério, se alguém vos coloca uma chave de metal no rabo não é óbvio que espera que vocês comecem a andar? Depois de muito “puxar o ar” ao camelo, ele lá se decidiu a arrancar. Ao chegar ao quilometro 526 da Duna23 perdi-me. Para mim é incompreensível que o filho de Deus vá, supostamente, nascer e ninguém se tenha preocupado com os acessos. Nem a FIFA cometeria um erro destes! Largos minutos depois lá encontrei uma placa que indicava o caminho para a sinagoga mais próxima. Ora, segundo julgo saber, o José é tão judeu que foi homem o suficiente para cortar tanto o pénis que a Maria teve de recorrer a um dador de esperma. Por isso, se há sitio onde eles podem estar é numa manjeodura que seja perto de uma sinagoga. Disso ou de uma Pita Schoarma. Uma delas há-de ser.
Cheguei a Belém era já noite. Por todo o lado se viam restos de velas do Hanukkah deitadas ao lixo como se fossem simples e triviais objectos que assinalam a data de uma crença tão espatafúrdia como a daqueles gajos que ainda acreditam que o Sporting vai ser campeão (a primeira noticia natalícia irónica é minha, quem diria?!). Cansado e com vontade de fazer xixi, entrei no primeiro buraco resguardado que encontrei e aliviei-me sem sequer olhar. Hoje vejo que foi um erro. Quando os gritos de “Ai que ele está a mijar para cima do filho de Deus!” e “José! Se este senhor for um prostituto, como parece ser devido ao seu enorme pénis, que tu contrataste para satisfazer as tuas fantasias, ficarei um pouco aborrecida contigo”. Tinha encontrado a manjedoura. Era um buraco tão miserável e tão parecido com uma casa de banho pública que ainda hoje penso que cometi um erro legitimo. Claro que o irado e encharcado em urina José não quis ouvir nada disto. Fartou-se de mandar vir comigo, mas eu sinceramente não liguei. Toda a minha atenção estava presa em Jesus. Para filho de Deus era feio, para um filho de judeus estava bem. Mal por mal, se a coisa não funcionar há sempre Auschwitz.
O bebé Jesus era um menino calmo e com aspecto doente. Logo ali naquela noite, que era a primeira do seu nome, vi que não ia ter uma vida longa. A minha aposta era 25 anos, mas ele superou-se e só morreu aos 33. É pena. Se tivesse morrido mais novo poderia ser como aquelas estrelas de rock e ficar para sempre imortalizado no coração dos seus fãs. Assim ficou apenas imortalizado nas acções dos seus fãs (queima de pessoas, inquisição, cruzadas e aquelas coisas agradáveis que se procurarmos bem estão presentes na sua mensagem de “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”).
Depois de pedir desculpa sem cessar ao José, lá fui perdoado e entrei na manjedoura finalmente. O cheiro era tão pestilento que, acreditem ou não, o cheiro da minha urina funcionou ali como um Brise Toque & Fresh. Maria olhava para Jesus embevecida. Tinha ainda o cordão umbilical com ela guardado num frasco “para a pesquisa de células estaminais”. Perguntei-lhe que esperava daquele filho, que vida sonhava ela para aquele rebento. “Só quero que ele seja feliz e que não se meta em confusões”.
Huuuuuui.... Pobre Maria - lembro-me de ter cogitado. “Então se o homem veio para sofrer pelos pecados das pessoas não pode ser feliz, e tem necessariamente de se meter em confusões” disse-lhe eu da maneira mais soft que consegui. Desatou a chorar. Que não, que não era assim, que Deus lhe tinha dito a ela um segredo (“olha, olha a armar-se em irmã Lúcia esta...”, pensei) e que ela só concordara em transportar o Salvador no ventre porque “Deus prometeu que ele viveria para sempre!”.
Cheio de pena de Maria, saí finalmente rumo a casa. Ela foi burlada por um senhor bem falante (com línguas de fogo é mais fácil) e vai sofrer bastante. Até porque ao sair da manjedoura vi, pelo canto do olho, José a deslocar-se de mansinho para ao pé da zona pélvica do burro...
Feliz Natal a todos.*
*As ameaças e injúrias à minha pessoa devem ser feitas através do email do blog. Obrigado.
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