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Preparem-se para ficar viciados, chegou o passatempo mais divertido sobre o assunto mais maçador de sempre!

Written By Sérgio Pereira on sábado, 6 de novembro de 2010 | 6.11.10


Filas enormes esperaram durante horas e horas ontem, dia 5 de Novembro, em frente aos supermercados de todos os Estados Unidos. Homens vestidos com fatos cinzentos escuros, chapéu da mesma cor e óculos de massa esboçavam sorrisos, exaltando-se cada vez que alguém anunciava o que ia acontecer a todo o momento. Os minutos passavam e a multidão exasperava, tentando arranjar formas variadas de se entreterem. Brincar com ábacos, experimentar resolver o Teorema de Fermat, determinar equações exponenciais com 10 incógnitas, tentar prever um novo crash da Bolsa, tudo valia para esta gente. Obviamente que, enquanto jornalista, podia e devia ter falado com alguém presente nessas filas, mas como as pessoas que as constituiam eram todas contabilistas e eu não estava preparado para começar uma conversa desinteressante, limitei-me a observar a urbe.

Por fim, as portas abriram-se. Ao contrário da chacina que aconteceu quando foi lançado o Jogo do Ganso (no qual quatro crianças Morreram, três caíram no Poço e sete ficaram perdidas no Labirinto logo ao segundo lançamento de dados), a multidão entrou calma e ordeiramente. Mas depois lembrei-me “Ah pois, são os azucrinantes dos contabilistas, a Ivete Sangalo teria de estar em palco umas sete horas para esta gente levantar poeira”. Devagar lá se foram dirigindo para as prateleiras, com um sorriso cada vez maior. Ao pegarem na enorme caixa branca com um velho a acenar com o chapéu, a alegria era incomensurável. “Yuppy! Já não estava tão contente desde que desviei aqueles 50 dólares ao senhor rico para o qual trabalho! Ups!”, gritou um, quando finalmente adquiriu aquilo porque esperava há tanto tempo.

A partir daqui, o processo foi sempre igual e, diga-se em abono da verdade, entediante. Contabilistas entravam, pegavam no jogo, compravam e saíam a correr em direcção a casa para passarem as próximas duas semanas a fazer rolar os dados no tabuleiro. Infelizmente, um deles veio ter comigo depois de ter obtido o jogo. “O senhor é jornalista?”. “Não, sou um mísero transeunte”, tentei eu safar-me. “Veio comprar o jogo também?”. “Hã... Não, estou aqui há espera de uma pessoa que, por acaso, também é transeunte”, enquanto olhava em volta e tentava pôr cobro à conversa. “Pois devia ir comprá-lo, é um jogo fantástico, pode pagar impostos e comprar ruas e construir casas e apartamentos e hotéis e depois comprar também as empresas que fornecem serviços básicos como água e electricidade, e ainda tornar-se magnata dos caminhos-de-ferro, mas tem de ter cuidado para não ir parar à prisão, pois fica uma, duas ou três vezes sem jogar a não ser que pague a fiança ou que consiga lançar os dados e obter dois 1, dois 2, dois 3, dois 4, ...”. Esta explicação das regras do jogo continuou por mais seis horas que passaram a voar - e esta expressão não é utilizada por acaso, dado que tinha um avião para apanhar, pois no dia seguinte (se bem que 18 anos antes) ia acontecer a Revolução Russa. Porém, achei por bem não enfadar o leitor com o relato dessas seis horas.

Perdido que estava o avião e como não tinha leite em casa, resolvi entrar no supermercado, evitando contacto físico e ocular com qualquer contabilista que ainda por lá andasse. E eram muitos, pois estes queriam o jogo mas queriam ainda mais escriturar as finanças de gente que não o faz porque tem uma vida. Lá cheguei à secção dos frescos e peguei numa embalagem de leite, preparado para sair dali. Contudo algo me moveu em direcção às prateleiras onde estava o jogo de que todos falavam, e peguei num exemplar, seguindo depois para a caixa do supermercado. Quando lá cheguei, uma senhora com ar cansado perguntou “Outra vez? Se vejo mais um contabilista ou este jogo à frente despeço-me!”. Tive de replicar: “Antes de tudo sou jornalista. E depois não faça isso, com este crash da Bolsa e esta economia seria difícil arranjar um emprego e acabaria por ir viver para a rua, onde está frio e gente assustadora e perigosa que a poderiam magoar...”, “Oh homem cale-se antes que me deixe dormir com essa conversa! Diz que é jornalista mas a falar parece contabilista! Vá-se embora, rápido!”.

E cá estou eu em casa. Fiz agora uma paragem para escrever esta notícia, depois de ter passado as últimas 12 horas seguidas a jogar Monopólio. É um jogo muito interessante! Ao início as ruas são baratas mas depois o preço começa a crescer e a crescer e a crescer ainda mais, tem de se ter cuidado com as finanças e não pensar em ir logo comprar apartamentos e hotéis junto do Central Park, porque senão ficamos sem dinheiro para pagar os impostos e ainda podemos ir pre... Bolas, maldito contabilista que veio falar comigo, já me pegou a doença.

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