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Faxineiras em greve por falta de condições e de gorjetas que não envolvam apalpões no rabo

Written By Sérgio Pereira on sábado, 9 de abril de 2011 | 9.4.11


Uma semana especialmente sangrenta, dizem alguns. Uma sorte em só ter perdido um braço e o nariz, dizem os habitantes do Médio Oriente. Seja como for, este início de mês não tem sido nada fácil para as senhoras da limpeza. Tal como disse Maria Gorete ao Jazigo, “em Abril Sonasol mil”. As desgraças têm-se catapultado, e sorte serem só as desgraças. Se catapultam mesmo uma pessoa imaginem a sujeira que isso não cria.

“O pior são as alcatifas, o sangue entranha-se, mistura-se com a urina de gato e os restos da lasanha, chego a passar duas horas de cócoras a esfregar sem descanso. E já não estou habituada a tanto esfreganço de cócoras desde que o meu marido Joca se meteu com a badalhoca do 3º esquerdo. Antes essa que a vaconça do 5º direito, só sabe sair de casa para ajudar os esfomeados e os sudaneses”. Os relatos sucedem-se, quais boatos sobre o tipo de tampões que fulana X usa. E não, sangue azul-esverdeado não é normal. A não ser que morem em Marte. Ou no Japão. Ou no Barreiro. 

Infelizmente, pouco tempo têm tido as faxineiras para cuscar. Só neste mês já vão três acontecimentos calamitosos, a exigirem o trabalho árduo das rainhas da higiene. “Primeiro foi aquele lanudo do Kurt Cobain, suicidou-se com comprimidos. Não causou grande transtorno, o vómito de Valium sai bem com um pouco de lixívia. Por um lado ainda bem que o fez, já começava a ficar farta da quantidade de pêlos que todos os dias tirava do ralo da banheira. Ele com aquele cabelo e a mulher com o que vinha das axilas. E os púbicos também. Mas principalmente os das axilas.”. Pousando por um momento a esfregona, Guilhermina de Jesus tenta mostrar-me as maravilhas do último catálogo da La Redoute, mas a minha peça estava longe de estar terminada e saí em passo apressado.

Seguiu-se Layne Staley, o eterno vocalista dos Alice In Chains. Quem o encontrou foi Felisberta Inácio: “Então não é que fui dar com o moço morto no sofá com uma agulha espetada no braço e vários medicamentos e drogas à sua volta? Não podia ter feito isso na banheira? Era só despejar dez litros de ácido sulfúrico lá para dentro e não tinha mais problemas! Agora assim tive de usar uma mistura de limão, hortelã-pimenta e óleo de fígado de bacalhau para não sentir o cheiro do cadáver em decomposição. Já as nódoas saíram bem, bem-haja ao senhor por usar o speedball, a mistura de heroína e cocaína. Se tivesse sido com Pikachu era bem pior. E não era só por causa dos choques eléctricos que deixavam o sofá impregnado de um cheiro a carne queimada, também era por a fenilciclidina estar cara, neste momento o dimenidrinato compensa mais”. A esta altura percebi que já tinha informação mais do que suficiente. “Não quer ver esta revista da Oriflame?”, gritou-me Felisberta quando eu me encaminhava para a porta com as mãos a tapar as orelhas e a gritar “LA LA LA LA LA LA”.

Uma última paragem era necessária. A conversa com Patrocínia Conceição foi rápida, visto na perspectiva de um miúdo de dois anos que ainda não aprendeu o conceito ‘tempo’. “Então já viu que um rapazinho chamado Dead se matou? As ironias da vida! Era tão bom moço, limpava ele próprio o sangue das galinhas que sacrificava, desinfectava as correias e as facas com que se torturava, não fazia mal a ninguém excepto aos animais que encontrava mortos… Para umas experiências científicas, dizia ele e eu acredito, que não percebo nada destas pessoas genial.. génias… génitairias, vá. E ele faz uma destas! Pelo menos deixou um bilhete a pedir desculpa pelo sangue, só para verem os bons modos que o rapaz tinha. Nunca falhava um ‘bom dia’, respondia sempre com um grunho! Enfim… vidas! E depois veio aí o amigo e colega dele, o Neurónyos ou Euronymous ou lá como se chama, e ficámos ali os dois de boca aberta a ver aquilo, ele tirou umas fotografias, rapaz artista o Eurocoiso, e depois pegou nos miolos do Dead e fez um guisado. Tenho-lhe a dizer, o piqueno tem um dedinho para o sal…! Provei um bocadinho e estava daqui. E aquilo tinha um ingrediente secreto lá pelo meio, ainda lhe perguntei mas não me quis dizer. Desconfio de esterco de cabra montesa. Ou isso ou coentros. Mas vou para o primeiro. O sabor dos coentros é mais enjoativo. Não quer ver o que diz do seu signo na TV Guia?”.

E chegou assim ao fim uma aventura mortífera. E algo nojenta. E com relativo mau gosto. Mas estas duas últimas pouco. Só a parte do limão é que foi esticar de mais a corda. Agora vou comer. Talvez uma posta de salmão. Diz que fica bem regado com molho de Valium e óleo de fígado de bacalhau, tudo fervido num dente de alho. Até para a semana.

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