Junko Tabei tornou-se ontem a primeira mulher a escalar o Evereste. A japonesa que já tinha alguma experiência em alpinismo, nomeadamente alpinismo social, ficou ontem na história do desporto não só como a primeira mulher a atingir o cume do Evereste mas também como a primeira pessoa a não espetar uma bandeira no topo da montanha conquistada. Junko justifica a sua decisão dizendo “nunca gostei de trazer comigo mais sucata (junk) que a que o meu nome comporta”. A proeza não foi contudo fácil de alcançar. Tabei teve de lutar contra muitos obstáculos a começar pela discriminação. Quando sabiam que uma mulher ia tentar escalar o Evereste a maior parte das pessoas respondia-lhe da mesma maneira descrente “Tabei tá! Quero ver isso”.A sua aventura começa quando, sentada com os pés debaixo do nalguedo, vê na televisão um anúncio onde se procura por uma mulher capaz de escalar o Evereste. Junko, que já antes tinha subido a Serra da Malcata, achou que era a pessoa ideal e candidatou-se. Escusado será dizer que ganhou. (O facto de entoar muito bem uma música dos Ornatos Violeta terá sido decisivo para a sua vitória). Com viagem marcada, só lhe faltava partir.
Toda contente, fez a amor com o seu marido uma última vez, depois fez as malas e aproveitando o facto de o táxi que a levaria ao aeroporto estar atrasado fez mais uma vez amor com o seu marido uma última vez. Já no táxi Junko apercebe-se que se esqueceu de trazer meias quentinhas e teve de voltar a casa, onde aproveitou para trazer não só as meias mas também um camisola de lã. Enquanto arrumava as coisas na mala, aproveitou também para fazer amor com o seu marido uma última vez. Frases como “A sério tenho de me ir embora” ou “ não temos tempo para isso, pousa lá esse pepino e anda cá” foram ouvidas com frequência.
Já no Nepal contrata, como é corriqueiro, nove sherpas para a guiarem até ao topo da montanha. Contrata também, embora isso esteja longe de ser corriqueiro, dois chefes de cozinha francesa que se tornariam seus amigos íntimos, e com os quais Junko aproveitou para várias vezes fazer amor por uma última vez antes de chegar ao topo do Evereste.
A partir daqui as dificuldades multiplicaram-se. Os chefes estavam chateados um com o outro devido a discordâncias sobre as quantidades de sal necessárias para fazer um sopa de feijão, as meias quentinhas de Junko afinal não eram assim tão quentinhas, e até as pequenas coisas, como levar com uma avalanche em cima e ficar inconsciente durante sete minutos, aconteceram a Junko Tabei.
Mas por fim, cansada, com os pés frios mas o coração quente, Junko atingiu o topo.
Oh o êxtase! Oh a delicia! Oh o clímax!
Agora que se encontra já nos anais (e não usei esta expressão por acaso leitor) da história perguntamos a Junko qual é o seu próximo objectivo. “Não sei. Mas gostaria de fazer uma viagem a Índia”. E aqui, este vosso Puyol dos jornalistas, foi pela primeira vez em muitos tempo de carreira fintado, pois perguntou inocentemente: “Ah, para fazer uma viagem espiritual e encontrar o seu verdadeiro eu?” ao que Junko responde com um trabalho de pés digno de Lionel Messi “ Não. Para me tornar a melhor do mundo nessa arte exploratória e perfurativa que é o coito”. Por esta é que eu não estava a espera.
0 comentários:
Enviar um comentário