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Por vezes os jornalistas tropeçam nas notícias, outras vezes têm de contorná-las

Written By Sérgio Pereira on sábado, 16 de abril de 2011 | 16.4.11


Durante o dia 15 de Abril apeteceu-me dar uma volta. Sair, apanhar sol, ar e, com sorte, uma garota de 9 anos. Dei por mim em Illinois, nos Estados Unidos. Mais concretamente em Des Plaines. “Que estou eu aqui a fazer?” foi o meu primeiro pensamento, “Será que nesta cidade existem escolas primárias?” o segundo. Comecei a dar a volta à cidade, mas depressa percebi que não havia nada para ver. Uma urbe da década de 50 com 50 mil gatos pingados torna-se desinteressante ao fim de 50 horas de caminhada. Até que algo aconteceu. Uma miragem, pensei ao princípio. Uma dádiva de Deus, pensei depois. O cansaço de 50 horas non-stop a andar está a fazer-me passar para o lado negro, foi a conclusão mais lúcida. Aproximei-me lentamente, como um leão da sua presa. Mas depressa percebi que não era uma escola primária, e aquilo que eu pensava ser uma petiz não passava de um anão imberbe e travesti.

À frente dos meus olhos estendia-se uma fila enorme. Não porque houvesse muitas pessoas, mas porque as que perfaziam a fila eram tão gordas que ocupavam vários metros quadrados cada uma. Aproximei-me de uma senhora com bigode e sabrinas rotas, para a indagar do motivo daquele ajuntamento. “É o paraíso na Terra! Vai abrir hoje! Estou tão emocionada que era quase capaz de o comer, se não tivesse uma orelhas tão finas.”. Afastei-me lentamente, como uma presa com medo que o leão comece a correr. Dirigi-me para onde a fila estava voltada, ou melhor, dirigi-me para a foz de um tumultuoso rio de baba. E nessa foz encontrava-se uma pequena casa pré-fabricada. “Queres ver que o lobo mau apanhou os três porquinhos e agora vai distribuí-los por esta gente mais esfomeada que um futuro filho da Angelina Jolie?” foi a metáfora perfeita para perceber que precisava de me sentar, comer e beber qualquer coisa. Como cá fora não havia bancos disponíveis (apenas três, ocupados por um senhor que era o primeiro da fila), entrei dentro daquela casa.

O odor era intenso, mas a minha transpiração da longa caminhada foi imediatamente suplantada por um cheiro a fritos que não se podia. E o pior, nada de cachopas menores de idade. “Mas que vem a ser isto?”, perguntei indignado. “Isto é o paraíso na Terra!”, gritou-me a senhora da fila, provando que o excesso de gordura lhe destruiu o sentido do gosto mas apurou-lhe o da audição. “Isto é o primeiro McDonald’s de sempre”, respondeu-me uma cozinheira de dentes podres e dedos gordurosos. “E então do que se trata este McDonald’s?”, perguntei continuando sem perceber. “Está a ver aquela gente toda lá fora? Pronto, vá, aquelas seis pessoas com 300 quilos cada uma. Elas são capazes de comer qualquer coisa, até uma placa de contraplacado. E nós aproveitamos  para fazer negócio com isso. Basta meter ketchup, maionese e sementes de sésamo por cima do contraplacado.”. 

Pronto, estava explicado, não precisava de saber mais nada. Antes de sair daquele estabelecimento pude comprovar a qualidade da madeira e de uma bebida que oscilava entre água suja e água do Darfur. Não, esperem, se calhar era mesmo só água suja. Contente e com as forças reestabelecidas levantei-me, paguei a conta, lavei uns pratos para conseguir pagar a conta (quem diria que comer árvores ficava tão caro) e perguntei onde podia encontrar uma moça que não soubesse o que são equações exponenciais. “Tenho uma dessas em casa”, respondeu a cozinheira, e a minha felicidade atingiu o seu apogeu. Pude finalmente fazer aquilo que tanto perseguia: brincar às bonecas e à cabra-cega – sorte das sortes, a miúda era mesmo cega! Foi um pagode que nem vos conto.

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