Fogo, sangue e excrementos de pessoas que tiveram medo ao ver tanto fogo e sangue, são aquilo que qualquer transeunte pode ver ao chegar a Roma. A cidade outrora radiosa encontra-se agora em ruínas, uma espécie de plantel do Sporting das cidades. Ao deparar-me com tamanho horror só há uma coisa que me vem à mente, “Eh pá estou cá com uma larica! Será que ninguém deixou para trás um Bolicao ou assim?”. Infelizmente não. Tive de sofrer mais duas horas, a passar fome, facto que em nada foi ajudado pelo cheiro a carninha tostada que impregnava o ar. Mas deixemos esta tragédia de lado, e retomemos ao relato do saque de Roma.
Os Vândalos são os responsáveis previsíveis deste saque. É verdade que o Rei Giserico ainda não se pronunciou, nem houve qualquer reivindicação do ataque por parte deste povo, mas os sinais não podiam ser mais claros. Obras de arte insubstituíveis desapareceram, há um rasto de violência visível em todo o lado e confettis de diversas cores dão um ar rabeta à cidade. Não há como negar, as imagens de marca dos Vândalos estão por toda a parte. Logo à entrada, por exemplo, além de avistar os referidos confettis, vejo várias edições deste mês da revista “Pilhagem”, revista essa a que os Vândalos são muito afectos devido aos seus artigos bélicos e não só. Pego num desses exemplares, movido pela curiosidade, e deparo-me com títulos bem exemplificativos da natureza da revista. “Machados x25, quando a morte chega rápida e não causa cãibras” ou ainda “Os 25 truques para violar uma mulher com o mínimo de estrebuchar”. Algo enojado, deito a revista fora, guardando no entanto o artigo com os truques (tem doído demasiadas vezes a cabeça à minha mulher, já é altura de eu tomar uma atitude menos compassiva).
Continuo a andar pela capital do império, e enquanto isso vou pensando nos acontecimentos recentes que levaram a tudo isto (na verdade não estava a pensar nada disto. Estava, isso sim, a pensar que era bem provável que entre os Vândalos, um povo a atirar para o nórdico-alemão, houvesse duas gémeas suecas de enormes seios. Mas como preciso de um pretexto para rever os acontecimentos não podia ir por aí não é?). Tudo começou quando um betinho vândalo (daqueles riquinhos nojentos que transbordam luxo. Dormem em luxuosos colchões de palha, tomam banho uma vez a cada dois anos, enfim, nascem com o rabo virado para a lua) se lembrou de dizer “Papá, porque é que não conquistamos e saqueamos a bruta Roma?”. Há resposta do seu pai (que por coincidência era o rei dos Vândalos) “Por que chateia” este menino da mamã afirmou “Que maricas que tu me saíste! Onde está a tua honra, meu pote de banhas efeminado disfarçado de ser viril?” (ao contrário do que o leitor possa estar a pensar, o pai deste pequerrucho não é José Carlos Malato). O rei picou-se e lá se decidiu a invadir Roma. Eu sei que é uma história que parece pouco espectacular e até, se forem cépticos, inverosímil. Mas isto com os Vândalos é sempre assim, tudo combinado sobre o joelho.
Ao sair de Roma não consigo, é até com alguma vergonha que escrevo isto, evitar que as lágrimas me corram pelo rosto abaixo. É tudo tão triste. A destruição da cidade, as famílias despedaçadas, o eu não conseguir trazer sozinho aqueles restos de uma estátua grega únicos, que me garantiriam uns bons milhões de euros. À medida que o sol se ia pondo este despedaçado jornalista encontra, ainda assim, um motivo para sorrir. O sorriso vem-lhe embrulhado na forma de um vaso grego de valor incalculável, que ele aproveita para levar consigo. Pego no vaso e deito fora o artigo da revista Pilhagem, algo que me diz que não vou precisar mais dele. Agora sou rico. A vida é bela. Roma caiu, é verdade, mas há coisas piores.
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