Aproveitando o bom momento que a imprensa atravessa,
um iletrado de nome Teotónio da Cunha Sem Sobrenome decidiu criar um jornal
semanal que dá atenção a todas as temáticas que os periódicos dedicados à
cultura ignoram. A primeira edição do Jornal InCultural chega na próxima segunda-feira às bancas de todo o país
e também da Amadora, e todos podemos esperar “o melhor dos mais desnecessários
semanários desde que O Independente acabou”, utilizando as palavras de
Teotónio. Utilizando as minhas palavras, diria que este jornal é um grave
atentado à mesma inteligência humana que nos tem mantido na vanguarda em
relação aos outros seres vivos que habitam este planeta, um insulto
catastrófico aos génios que, durante milénios, descobriram e desenvolveram as
maravilhas deste mundo complexo e fabul… cocó, o Jornal InCultural é cocó. Mas escrevo como jornalista, por isso devo
reportar-me apenas aos factos e deixar os meus comentários estúpidos no bolso.
Falemos então um pouco do que se poderá ler neste novo semanário incultural.
Nesta primeira edição, o grande destaque vai para
uma reportagem sobre a vida do empregado de limpeza do Museu da Cerveja. O
jornalista/repositor de stocks
Armindo Teixeira chegou à fala com o senhor Dionísio, e ambos percorreram os
corredores lavados com Ajax Fabuloso Flores Silvestres, acompanhados de
histórias de vida e de comentários sobre o último jogo do Benfica que Dionísio
lançava ao acaso, degustações constantes da doce cevada e posteriores
vomitações em sanitários equipados com Harpic Lavanda.
Além desta reportagem, encontram-se também as
críticas a obras inculturais
recentes. Elisa Fundilhos, conhecida agente imobiliária e ninfomaníaca,
traz-nos a sua visão sobre o último filme de Óscar Alho, “O Senhor dos Pincéis:
As Duas Mamalhudas”. Nesse artigo, que poderá ser lido na íntegra na próxima
segunda-feira, Elisa escreve: “Em 87 minutos de altos e baixos - tanto estão em
cima da mesa da cozinha como no chão – o grande destaque vai para o
protagonista, Heitor Desbravador, e pela entrega que mostrou na única fala que
tem no filme (e na única fala que o filme tem). Nunca as palavras ‘Quero
descobrir todos os caminhos desconhecidos do teu pacote’ tiveram uma carga tão
emotiva, e Heitor mostrou ser dotado de grandes capacidades representativas. Já
o seu pénis era diminuto”.
Destaque ainda para uma retrospectiva sobre a
exposição “Cavalos e outras coisas”, em que a artista plástica Alcina Palmeira
fez uma colagem de fotografias de festas do social publicadas na revista Caras,
e em nenhuma dessas fotografias aparecem cavalos, o que tem levado a profundas
análises semiológicas dos visitantes, tais como “Isto é estúpido”, “A mulher
deve bater mal” e “Então mas onde caralho estão os cavalos? A Lili Caneças não
conta”.
Por fim, de referir ainda que Filipa da Cunha Sem
Sobrenome, a filha de 7 anos do director do Jornal InCultural, escreveu um pequeno artigo explicando a letra da
popular música “Call Me Maybe”, de Carly Rae Jepsen: “Ela tipo tem vontade em
apaixonar-se e viu este rapaz suuuuuper-giro e apaixona-se logo por ele mas
acabou de o conhecer e não quer tipo dar já a entender isso porque não quer
parecer desesperada mas mesmo assim sente-se atraída por ele e decide que tem
de fazer alguma coisa senão pode perdê-lo por isso até porque ela sente que o
conhece tipo há muito tempo como se sempre estivessem destinados um ao outro
mas até então isso ainda não tinha acontecido e ela sentia-se tipo sozinha mas
agora ela pode finalmente ficar com ele mas tem de ir cuidado para não o
assustar por isso pergunta-lhe se ele lhe quer telefonar talvez tipo só se ele
quiser sem pressões. Eu acho que eles vão ficar juntos tipo são perfeitos um
para o outro.”
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