O passado dia 21 foi triste. A longa espera redondeou numa profunda desilusão. Tudo indicava que aquele saco de calhaus proporcionaria horas de gozo a ver Luís Filipe Vieira aos urros enquanto a orelha era cozida a sangue frio. Acompanhada de um feijão, tudo bem regado com azeite, devia ficar que era uma maravilha. Mas não, falhou-se o tiro. Mudando para um tema que não incite tanto à violência: o catolicismo.
Não muito longe da A41, apenas a uns 167 anos de distância, William Miller meneava a cabeça enquanto milhares de pessoas apontavam para ele e riam-se a bandeiras despregadas. E isto fazia as pessoas rirem-se ainda mais: “Porque é que nós pregamos as bandeiras quando as podemos hastear? Ah ah ah é que somos estúpidos! Mas não tão estúpidos como este senhor que parece o Nelson Muntz com 60 anos. Ah ah!”. Com esta Miller retirou-se para um canto a chorar, provando que as parecenças com Nelson se ficavam pelo aspecto físico. Um bully que se preze não chora, faz os outros chorar… por terem as cuecas a apertar-lhe a genitália. Mas porque razão chorava Bill? Tudo remontava a 1782, o dia do seu nascimento.
Filho de um veterano de guerra e de uma filha de um reverendo, era certo e sabido que Bill queria ser actor pornográfico. Mas o fetiche por pessoas com peso a mais ainda não tinha chegado a Falowood. Nada mais restou a William do que seguir uma carreira militar bem-sucedida, posteriormente subaproveitada para se dedicar ao estudo da Bíblia. Subaproveitada porque podia ter-se virado para o estudo do livro infantil Anita está atrasada por ter ido a uma rave em Santarém onde conheceu um homem de negócios só com uma perna. Ainda hoje estou para perceber o que Anita fumou para ver esqueletos de dinossauros a fazerem amor ao som de Tiësto. Após vários anos de estudo do livro sagrado, Will chegou à conclusão que devia ter parado a meio para ir à casa-de-banho. Além disso, previu o regresso de Cristo à Terra para algures entre 21 de Março de 1843 e 21 de Março de 1844. Mas a verdade é que se chegou 21 de Março de 1843 e nada. Os dias iam passando e nem sinal do Salvador. Cristo lá ia aparecendo numa tosta ou numa batata frita, mas o Salvador foi comprar tabaco e não mais voltou. Quem é o Salvador, estão a perguntar-se? E que isso interessa? A notícia é sobre o William Miller e o regresso de Jesus Cristo à Terra. E nem se fala mais no Salvador, acabou! Muito bem como acabaram essas bocas ridículas de que ele era uma “companhia íntima” aos fins-de-semana do outro co-autor deste blog. Chega! Já puseram Tiago Lacerda a chorar, vamos lá parar de falar do Salvador, dos seus enormes bíceps e do seu sotaque italiano. Parem lá com isso! Não vêm que Tiago está claramente a sofrer neste momento? Precisa claramente de conforto. Se ainda cá estivesse o Salvador…!
Voltando ao tema central da notícia. O dia 21 de Março de 1844 chegou finalmente. O mundo acordou com expectativa. “Será que é hoje que nos arranjam condições sanitárias decentes?”. Cedo se percebeu que, utilizando uma expressão inglesa, “no one gives a shit”, se bem que a mesma continuava a arrastar-se pela cidade, qual sem-abrigo bêbado. E nada pior que o hálito de um sem-abrigo bêbado que se anda a arrastar por cocó. Já Miller acordou confiante. “É hoje! Hoje Ele vai descer à Terra, beijar-me na testa, fazer-me crepes de chocolate e cantar o Kumbaya com a minha família!”. Era sem dúvida uma criança de 62 anos extremamente feliz, como se fosse dia de Natal e o papel das prendas fosse feita de açúcar caramelizado. As horas foram passando, a população juntou-se à porta de Bill à espera, mas nada aconteceu. Excepto uma anormal vaga de assaltos às casas vazias das pessoas que esperavam em frente do lar de Bill, mas isso não interessa para o caso. Quando a meia-noite chegou, foi a debandada geral. “Nem acredito que perdi o Espírito Indomável para isto!”, dizia uma dona-de-casa. “E eu, que não sei com quem é que a Alexandra Lencastre fez amor na novela de hoje, que vou fazer amanhã para entreter a clientela?”, manifestava-se indignada uma cabeleireira.
Claramente, eram muitas as vidas prejudicadas por este falhanço de William Miller. Mas ninguém estava em piores lençóis do que Mr. Burns. O velho magnata tinha apostado muita da sua fortuna em como Cristo desceria mesmo à Terra dia 21, trazendo consigo o elixir da juventude e um Toblerone. Felizmente os Estados Unidos têm a pena de morte, sempre podem dar ao embusteiro do Bill aquilo que ele merece: condições sanitárias prisionais para depois se borrar todo quando o electrocutarem. Ou então pode sempre ficar preso num elevador com o Salvador.
0 comentários:
Enviar um comentário